quinta-feira, junho 30

O PESO QUE A GENTE LEVA...


Olho ao meu redor e descubro que as coisas que 
quero levar não podem ser levadas. Excedem aos tamanhos permitidos. 
Já imaginou chegar ao aeroporto carregando o colchão para ser despachado?

As perguntas são muitas... E se eu tiver vontade de ouvir aquela música?
E o filme que costumo ver de vez em quando, como se fosse a primeira vez?

Desisto. Jogo o que posso no espaço delimitado para minha partida e vou. 
Vez em quando me recordo de alguma coisa esquecida, ou então, 
inevitavelmente concluo que mais da metade do que levei não me serviu pra nada.

É nessa hora que descubro que partir é experiência inevitável de sofrer ausências. 
E nisso mora o encanto da viagem. Viajar é descobrir o mundo que não temos. 
É o tempo de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o valor do mundo que nos pertence.

E então descobrimos o motivo que levou o poeta cantar:
 “Bom é partir. Bom mesmo é poder voltar!” Ele tinha razão.
 A partida nos abre os olhos para o que deixamos.

A distância nos permite mensurar os espaços deixados. 
Por isso, partidas e chegadas são instrumentos que nos indicam 
quem somos, o que amamos e o que é essencial para que a gente continue sendo.

Ao ver o mundo que não é meu, eu me reencontro com desejo de amar ainda mais o meu território. É conseqüência natural que faz o coração querer voltar ao ponto inicial, ao lugar onde tudo começou.

É como se a voz identificasse a raiz do grito, o elemento primeiro.

Vida e viagens seguem as mesmas regras. 
Os excessos nos pesam e nos retiram a vontade de viver.
 Por isso é tão necessário partir. Sair na direção das realidades 
que nos ausentam. Lugares e pessoas que não pertencem 
ao contexto de nossas lamúrias... Hospitais, asilos, internatos...

Ver o sofrimento de perto, tocar na ferida que não dói na nossa carne, 
mas que de alguma maneira pode nos humanizar. Andar na direção do outro é também fazer uma viagem
Mas não leve muita coisa. 
Não tenha medo das ausências que sentirá. 

Ao adentrar o território alheio, quem sabe assim os seus olhos 
se abram para enxergar de um jeito novo o território que é seu. 
Não leve os seus pesos. Eles não lhe permitirão encontrar o outro. 
Viaje leve, leve, bem leve. Mas se leve.

fabiodemelo.com.br - © 2003/2011 - todos os direitos reservados

Nenhum comentário: